OBJETIVO E INTRODUÇÃO
Nesse artigo eu elaboro uma análise detalhada das provas de Macroeconomia do exame da Anpec de 2005 a 2022. Abordo características gerais das questões, composição da prova, nível de dificuldade e tendências. Uso a linguagem que aplico ao longo do curso de Macroeconomia do Cursinho Simples. É um conteúdo aberto a todos os candidatos interessados no exame da Anpec.
Antes de adentrar na análise, invisto algumas linhas em explicar como o exame da Anpec funciona e quais métricas são utilizadas no texto a seguir. A prova da Anpec ocorre anualmente visando classificar candidatos a vagas em cursos de pós-graduação em economia, principalmente mestrado e doutorado em economia. O exame contém 6 provas, sendo Macroeconomia a primeira da bateria. A prova de Macroeconomia contém 15 questões, sendo estas do tipo “fechada” – com 5 itens do tipo verdadeiro ou falso – ou “aberta” – com respostas de entrada numérica entre 00 e 99. As questões fechadas contam com punição ao chute: um item respondido incorretamente anula um item respondido corretamente. O conteúdo da prova é bastante extenso, cobrindo praticamente todo um núcleo comum de macroeconomia a nível de graduação.
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VISÃO PANARÔMICA DA PROVA DE MACROECONOMIA E ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDOS
Classifico as questões abertas e cada um dos itens das questões fechadas em dez módulos (ver tabela 1). Essa granularidade visa ajudar os candidatos a entenderem em profundidade o porquê de cada etapa da preparação – e do conteúdo macroeconômico da graduação em economia.
A grande maioria das questões trata de um módulo único, mas desde 2013 observa-se um aumento na recorrência de questões mistas – questões que tratam de assuntos não tão intimamente ligados e, por isso, estão em módulos distintos. Classifico as questões em nível de revisão ou aprofundamento. Geralmente, considero as questões de aprofundamento como as que têm pelo menos um item ambíguo, são elaboradas de forma insatisfatória ou questionam sobre um tema muito específico. Todas as questões abertas são consideradas de nível de revisão. Isso naturalmente implica que existem diferentes escalas de dificuldade dentro das questões de revisão.
Os números para não são inteiros para questões do tipo V/F por conta da ocorrência de questões mistas.
Os dez diferentes módulos podem ser divididos em três grandes blocos. A seguir elaboro uma visão geral.
Fazem parte do primeiro bloco os módulos que introduzem a grande maioria do vocabulário mínimo para o macroeconomista: Contabilidade Social, Economia Monetária e Finanças Públicas. Alguns modelos fazem parte deste bloco – em especial os modelos de demanda por moeda – mas a maior parte das questões tratam de definições, tautologias ou aplicações contábeis. De maneira geral, as questões abertas são relativamente acessíveis e as questões fechadas escondem pegadinhas, em casos específicos. As questões de Economia Monetária são as mais acessíveis, enquanto as maiores pegadinhas ou itens de aprofundamento estão no módulo de Contabilidade Social. A parte de Finanças Públicas foi composto por proporcionalmente mais questões abertas do que fechadas.
O segundo bloco do traz quatro módulos: Modelos Clássico e Keynesiano, Modelo IS-LM, Modelo OA-DA, e Macroeconomia Aberta. O primeiro módulo serve de referência para os modelos que vem pela frente. De um lado, o Modelo Clássico serve como referência para os resultados esperados para o “longo prazo”. O Modelo Keynesiano serve de base para a construção do Modelo IS-LM e tem como objetivo ajudar e entender melhor a macroeconomia a “curto prazo”. Ambos modelos não aparecem muito na prova da Anpec de maneira bruta, mas é importante construir bem esses alicerces para os modelos seguintes.
Na minha opinião, o modelo IS-LM é o modelo mais importante para a prova da Anpec. De um lado, tem muitas questões próprias. Por outro, serve de base para a macroeconomia de “médio prazo”, analisada com o modelo OA-DA, e para o modelo básico de macroeconomia aberta, o modelo IS-LM-BP. As questões fechadas e abertas geralmente são bem acessíveis. O modelo OA-DA traz uma gama mais ampla de temas relacionados à macroeconomia de médio prazo. As questões abertas geralmente são acessíveis, dado um conhecimento mínimo da parte teórica. Os itens fechados podem ser menos acessíveis, de forma que esse módulo tem uma grande parcela de suas questões fechadas no nível de aprofundamento.
O módulo de Macroeconomia Aberta é o mais volumoso na prova, de maneira geral. Em 2019, por exemplo, correspondeu a um terço da prova. A maior parte das questões abertas são simples aplicações dos conceitos, apesar de algumas serem trabalhosas – aqui a prática é especialmente importante. Algumas questões relacionadas ao modelo IS-LM-BP são difíceis, provavelmente entre as questões mais difíceis da prova. Esses itens conceituais geralmente são ignoráveis sem muito prejuízo para a maior parte dos candidatos.
O bloco final trata da macroeconomia de longuíssimo prazo e temas que considero como acessórios. Os módulos tratam de Consumo e Investimento, Crescimento Econômico e Pensamento da Macroeconomia. O módulo de Consumo e Investimento tem certa intersecção com as questões de Contabilidade Social e o Modelo Keynesiano. Ter uma base sólida em modelo Keynesiano ajuda bastante no desempenho dessa parte. As questões abertas tem bastante álgebra, então treino é fundamental. Algumas questões fechadas podem ser duvidosas.
O módulo de Crescimento Econômico contém o modelo de Solow, de extrema importância. O módulo ainda cobra as vezes alguns fatos estilizados das teorias de crescimento endógeno – essas questões são do tipo fechada na grande maioria e muitas vezes falta um pouco de clareza para conseguir angariar esses pontos. São ignoráveis para a grande maioria dos candidatos, mesmo para os que buscam posições competitivas.
O módulo de Pensamento da Macroeconomia tem bastante interação com a macroeconomia de médio prazo, onde a maior parte do debate entre as escolas de pensamento econômico reside. Ter uma base boa em Modelo OA-DA ajuda nessa parte. As questões costumam ser um tanto repetitivas, então um estudo organizado é especialmente valioso para esse módulo. São questões fechadas, relativamente acessíveis. Não deve ser a preocupação de estudo de alunos que não buscam posições muito competitivas, como top 150.
RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA UM ESTUDO EFICIENTE
De maneira geral, é bem possível conseguir notas competitivas com questões abertas e as questões a nível de revisão. Um estudo muito eficiente para os candidatos que buscam posições muito competitivas – top 30 – deve passar necessariamente pelas questões de nível de aprofundamento, mas ignorando os itens claramente muito específicos, muito mal escritos ou ambíguos “demais”. Para candidatos que buscam posições entre 30 e 100, é possível não despender muito tempo em questões de aprofundamento, mas uma passada única é interessante como uma vacina. Candidatos que estão satisfeitos com posição até 200 devem em questões de nível de revisão.
Para além da posição 200, uma base mínima e esforço considerável nas questões abertas deve ser suficiente, em conjunto com um foco em módulos mais acessíveis ou partes mais previsíveis de módulos mais intermediários. Um kit essencial certamente contém todas as questões abertas e mais os conteúdos de Economia Monetária, Modelo IS-LM, Crescimento Econômico (Modelo de Solow) e Macroeconomia Aberta (exceto o modelo IS-LM-BP). Partes específicas de Modelo OA-DA, Macroeconomia Aberta e Pensamento da Macroeconomia devem ser a última prioridade, sendo exploradas apenas para aqueles alunos que queiram ficar no top 30.
De maneira geral, a prova de Macreconomia costuma ser bastante conceitual. Em alguns anos é muito bem elaborada, em outros, nem tanto. Assim, ter uma boa base conceitual acaba sendo indispensável para os candidatos competitivos. Para ir razoavelmente bem no exame é muito importante ter bastante familiaridade com os modelos e bastante treino com as questões aberta.
Coloco abaixo algumas tabelas que mostram como classifico o histórico do exame. No cursinho simples, foco em questões antigas – dos exames de antes de 2016 – apenas se forem bons instrumentos didáticos –praticamente todas em nível de revisão. As provas de 2005, 2006, 2007, 2011 e 2014 são bons instrumentos de aprendizado. As abertas de 2008 são interessantes para treino. Dos exames mais recentes, a prova de 2017 é particularmente difícil: apenas duas questões abertas e sete questões de nível de aprofundamento. A prova de 2018 pode ser considerada difícil também, mas as questões de nível de aprofundamento menos cuidadosamente elaboradas estão mais evidentes. As questões de 2017 parecem mais bem formuladas, mas são mais difíceis.
CONCLUSÕES
Esse artigo apresentou uma avaliação quantitativa e qualitativa das provas de Macroeconomia da Anpec de 2005 a 2022. A análise é feita através das lentes que usei para elaborar e utilizo para melhorar e atualizar o Curso de Macroeconomia do Cursinho Simples.
Da experiência com alunos do Cursinho aprendi que a classificação de dificuldade das questões evolui ao longo do tempo, depende da base que cada aluno traz consigo e de como encara os estudos. O curso visa simplificar o processo de preparação dos candidatos ao eliminar a necessidade de organização de materiais ou de um processo separado para aprender o conteúdo e outro para treinar a prova – no Cursinho está tudo integrado.
O processo orgânico de idas e vindas entre exposição de conceitos e validação da assimilação se repete inúmeras vezes ao longo do ano de preparação de cada candidato. A experiência da preparação com o Cursinho evidentemente é muito mais ampla do que o exposto nesse artigo. Aqui, abri em mais detalhes a organização dos materiais usados ao longo da preparação.
Tenho certeza que dois são os insumos essenciais para um excelente desempenho no exame da Anpec: uma metodologia consistente associada a materiais didáticos de alta qualidade e bastante disposição para estudar. Espero que tenha aprendido algo útil durante a leitura e esteja bem disposto a estudar!
Bons estudos,
Mauz
Este artigo foi escrito por Maurício Barbosa Alves.